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NOÇÕES BÁSICAS SOBRE DESIDRATAÇÃO

CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS SOBRE HIDRATAÇÃO PARA ATLETAS: NOÇÕES BÁSICAS SOBRE A DESIDRATAÇÃO


Resumo

Em esportes de combate, a utilização do processo de desidratação como estratégia de perda rápida de peso é frequentemente utilizada com o propósito de obter vantagens sobre o oponente. Nesse processo, a redução de peso é extremamente acentuada com curta duração, o que pode provocar uma série de desordens fisiológicas, psicológicas e também quanto ao desempenho esportivo. Sendo assim, a presente revisão teve como objetivo a explanação básica sobre o processo de desidratação e suas consequências.

PALAVRAS CHAVE: Desidratação, artes marciais e combate.


Introdução

As modalidades de luta apresentam a massa corporal como um dos critérios de divisão dos atletas. Em decorrência dessa categorização, muitos atletas optam por reduzir a massa corporal na tentativa de enfrentarem atletas menores e teoricamente mais fracos (ARTIOLI, FRANCHINI & LANCHA JUNIOR, 2006), tornando assim a prática da desidratação um processo bastante difundido nos esportes de combate.

Com o desenvolvimento do esporte e com a difusão dos mesmos pelas grandes mídias os métodos para que os atletas conseguissem bater o peso de sua categoria vieram a tona.

Os esportes de combate e lutas em geral proporcionam ao atleta uma elevada demanda metabólica tanto no treinamento quanto em competições. Para que um atleta tenha um rendimento adequado, vários fatores deverão estar bem ajustados, para que a performance não seja afetada negativamente.

O consumo de líquidos por um atleta de artes marciais está justificado por: um longo período de treinamento diário que um atleta tem que suportar, uma temperatura ambiente elevada, o tipo de vestimenta que dificulta a perda de calor.

Uma vez que a maioria das modalidades de luta trabalha com restrição de peso, estes conhecimentos básicos de hidratação são fundamentais.


Desidratação

O corte de peso dos lutadores é um assunto que nunca sai das discussões no mundo das Artes Marciais e uma estratégia comumente utilizada para perda de peso é a desidratação. Porém é de suma importância saber que a água e os eletrólitos são fatores primordiais para a manutenção da atividade física. Um desequilíbrio entre estes elementos pode alterar a capacidade física. Sabe-se que a redução hídrica durante o exercício levará o atleta a um estado de desidratação (ACSM, 2009; ADROGUÉ & MADIAS, 2000).

A desidratação é definida como uma perda de líquidos superior a dois por cento do peso corporal causando um aumento da tensão fisiológica consequentemente o aumento da percepção de uma pessoa quanto ao esforço necessário à realização de um exercício.

Tal processo pode reduzir o desempenho de um atleta por interferir negativamente em parâmetros fisiológicos, como volume plasmático, fluxo sanguíneo e controle de eletrólitos, culminando em baixo rendimento do seu desempenho. A perda hídrica pela sudorese durante o exercício pode levar o organismo à desidratação, com aumento da osmolalidade, da concentração de sódio no plasma e diminuição do volume plasmático (SAWKA, 1992). Ou seja, à medida que o corpo se desidrata, o volume sanguíneo e a produção de suor diminuem, e a temperatura corporal aumenta. Como precisa evitar o hiperaquecimento, o corpo deve trabalhar mais para enviar o sangue até a pele e dissipar o acúmulo de calor e produzir suor. O resultado é menos líquido na corrente sanguínea para levar sangue rico em oxigênio até os músculos de trabalho, pulmões e outros órgãos.

A desidratação pode afetar negativamente o desempenho do exercício aeróbico1, especialmente em climas quentes, podendo reduzir a capacidade mental/cognitiva. A magnitude do declínio do desempenho no exercício está relacionada ao estresse causado pelo calor, ao exercício e às características biológicas individuais da pessoa, tornando-se um fator de risco para a exaustão por calor.

Nota1: Alguns estudos realizados sugerem que a atividade acíclica que caracteriza os esportes de combate, combinada com movimentos de extrema técnica as quais requerem muita energia, seguido por curtas interrupções durante a luta, gera um perfil metabólico no qual o metabolismo aeróbio é a fonte de energia predominante, ao passo que o metabolismo anaeróbio é requerido, principalmente, para fornecer energia tanto a base de fosfato (ATPCP) bem como às custas da produção e liberação desproporcional de lactato sanguíneo nos momentos finais de exercício. Assim, mesmo levando-se em consideração que os esportes de combate é composto por um número elevado de ataques e defesas de alta intensidade, o perfil metabólico geral apresenta uma predominância do metabolismo aeróbio.


A perda de líquidos corporais induzida pela realização de exercícios em ambientes quentes e o uso de roupas antitranspirantes (borracha/ plástico), laxantes e diuréticos podem afetar o equilíbrio eletrolítico corporal, principalmente do mineral cálcio, o que pode resultar em menor mineralização óssea e causar fraturas por estresse (COHEN & ROE, 2000).

A grande questão deste tipo de método para perda de peso é que devido às camadas de roupa uma menor área do corpo do atleta será exposta ao ambiente para permitir a perda direta de calor. A prática de exercitar-se com uma roupa emborrachada para provocar a perda de peso é um excelente exemplo de como é possível criar um perigoso microambiente (o ambiente insulado no interior da roupa) no qual a temperatura e a umidade sejam altas ao ponto de bloquear quase toda a perda de calor. Essa situação pode levar rapidamente à exaustão térmica ou à intermação. (WILMORE; COSTILL, KENNEY, 2010. p.277).

Frequentemente, os diuréticos produzem nos lutadores hipocalemia (diminuição da concentração de potássio no sangue), podendo colocar em risco a saúde, pois a redução do potássio corporal altera a atividade da bomba sódio-potássio, a qual, em níveis críticos, leva o atleta a óbito (MARINS, DANTAS & ZAMORRA-NAVARRO, 2000a).

A desidratação crônica acontece em atletas que não bebem suficientemente líquidos em relação às suas necessidades.

Este estado se manifesta pelo cansaço ao esforço, desânimo no quotidiano, dificuldade de concentração ou memorização. Esta fadiga vem associada a uma baixa de desempenho, dificuldade de recuperação, o que provoca câimbras, dores musculares ou contração muscular. Frequentemente impressão de pernas pesadas ao acordar, a cor escura da urina pela manhã também é um bom indicador.

O cansaço tem um papel negativo sobre o estado de vigilância do atleta, o que provoca um impacto na precisão dos seus gestos. Esta baixa de desempenho é acentuada e os riscos de ferimentos e quedas aumentam por falta de coordenação motora.

Classificada como leve, moderada ou severa com base no volume de líquido corporal perdido ou não reposto, juntamente com a falta de sódio está associada a cãibras músculo-esqueléticas. Quando severa, a desidratação é uma situação de emergência com risco de morte iminente.

Os primeiros sinais de desidratação podem não ser específicos, normalmente envolvem fadiga, dor de cabeça e confusão. Um estudo realizado com 220 atletas de luta, demonstra as manifestações fisiológicas relatadas pelos indivíduos quando em estado de desidratação.

Fonte: R. bras. Ci. e Mov. 2005; 13(2): 59-74


Associado aos problemas já relatados, podemos associar a eles a influência destes métodos na questão mental dos atletas, o que acaba gerando uma carga de estresse nos lutadores.

Segundo LOURES, Débora Lopes et AL (2001), a vida consiste de um equilíbrio dinâmico, constantemente alternando estados de estresse e homeostase. Desta forma, as forças que alteram a homeostase são equilibradas por respostas adaptativas geradas pelo organismo.

Os organismos multicelulares se adaptam a essas situações através de complexas alterações neurais, humorais e celulares, envolvendo múltiplos órgãos e tecidos. O organismo humano desenvolveu um sistema complexo, constituído por componentes do sistema nervoso central, incluindo os neurônios do núcleo paraventricular hipotalâmico, que produzem o hormônio de liberação da corticotrofina, núcleos noradrenérgicos do tronco cerebral com seus componentes periféricos, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e o sistema nervoso autônomo, cuja principal função é manter a homeostase no repouso e em situações de estresse.

O sistema descrito acima exerce importante influência em muitas funções vitais, como a respiração, o tônus cardiovascular e o metabolismo intermediário, que também são alteradas por estados de estresse. Os riscos adotados pelos atletas são graves e explicitados baseados em evidências científicas, estes problemas agudos, se repetidos por várias vezes (caso dos lutadores, que realizam a prática da desidratação) podem ocasionar problemas mais graves com o passar do tempo.

O ACSM (American College of Sports Medicine) posicionou-se pela primeira vez em 1976 sobre a redução de peso em lutadores, desestimulando a utilização de roupas de borracha, saunas secas ou a vapor, laxantes e diuréticos para “perder peso”, e mostrando-se favorável a programar pesagens diárias antes e depois das competições para monitorizar reduções artificiais de peso. Sendo que o peso perdido durante os treinos e competições deve ser reposto através de uma ingestão adequada de alimentos e líquidos. (ACSM, 1999).

Estas medidas têm por objetivo preservar a saúde dos atletas e criar um âmbito de luta mais seguro para seus praticantes, porém, sabe-se que tais recomendações não são seguidas e a desidratação continua a ser praticada pelos lutadores na atualidade.

Conforme a diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, o reconhecimento dos sinais e sintomas da desidratação é fundamental. Quando leve a moderada, ela se manifesta com fadiga, perda de apetite e sede, pele vermelha, intolerância ao calor, tontura, oligúria e aumento da concentração urinária. Quando grave, ocorre dificuldade para engolir, perda de equilíbrio, a pele se apresenta seca e murcha, olhos afundados e visão fosca, disúria, pele dormente, delírio e espasmos musculares. (CARVALHO, 2009).


Considerações Finais

Os regimes vigorosos de redução de peso não são recomendados para atletas de combate, tendo em vista as inúmeras alterações fisiológicas e psicológicas causadas por tais práticas, levando em conta que, em esportes de alto rendimento, um mínimo decréscimo no desempenho pode ser crucial na decisão do combate.

Com base nos estudos realizados pode-se afirmar que a desidratação é completamente prejudicial a saúde dos atletas praticantes de modalidades de luta.


Referências

ALDERMAN, B. L.; LANDERS, D. M.; CARLSON, J.; SCOTT, J. R. Factors related to rapidweight loss practices among international-style wrestlers. Medicine and Science in Sports and Exercise, Hargestown, v. 36, p. 249-52, 2004.

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Redução de peso em lutadores. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v. 5, p. 77-80, 1999. 258 Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 35, n. 1, p. 245-260, jan./mar. 2013


ARTIOLI, G. G.; FRANCHINI, E.; LANCHA JUNIOR, A. H. Perda de peso em esportes de combate de domínio: revisão e recomendações aplicadas. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 8, p. 92-101, 2006.


ARTIOLI, G. G. et al. Magnitude e métodos de perda rápida de peso em judocas de elite. Revista de Nutrição, Campinas, v. 20, p. 307-315, 2007.

HALL, C. J.; LANE, A. M. Effects of rapid weight loss on mood and performance among amateurs boxers. British Journal of Sports Medicine, Loughborough, v. 35, p. 390-395, 2001.


KOWATARI, K. et al. Exercise training and energy restriction decrease neutrophil phagocytic activity in judoists. Medicine and Science in Sports and Exercise, Hagerstown, v. 33, p. 519-524, 2001.


PAHL, M. V. et al. Effect of rapid weight loss with supplemented fasting on serum electrolytes, lipids, and blood pressure. Journal of the National Medical Association, v. 80, p. 803-809, 1988.


PERRELLA, M. M.; NORIYUKI, P. S.; ROSSI, S. Evaluation of water loss during high intensity rugby training. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v. 11, p. 217-9, 2005.

Exercise and Fluid Replacement, Position Stand, American College of Sports Medicine, Med Sci Sports Exer. 2007:39;377-390.



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